06 julho, 2009

Reflectindo

O texto do Evangelho repete uma ideia que aparece também nas outras duas
leituras deste domingo: Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na
fragilidade. Normalmente, Ele não se manifesta na força, no poder, nas qualidades
que o mundo acha brilhantes e que os homens admiram e endeusam; mas, muitas
vezes, Ele vem ao nosso encontro na fraqueza, na simplicidade, na debilidade, na
pobreza, nas situações mais simples e banais, nas pessoas mais humildes e
despretensiosas… É preciso que interiorizemos a lógica de Deus, para que não
percamos a oportunidade de O encontrar, de perceber os seus desafios, de
acolher a proposta de vida que Ele nos faz…
¨ Um dos elementos questionantes no episódio que o Evangelho deste domingo nos
propõe é a atitude de fechamento a Deus e aos seus desafios, assumida pelos
habitantes de Nazaré. Comodamente instalados nas suas certezas e preconceitos,
eles decidiram que sabiam tudo sobre Deus e que Deus não podia estar no
humilde carpinteiro que eles conheciam bem… Esperavam um Deus forte e
majestoso, que se havia de impor de forma estrondosa, e assombrar os inimigos
com a sua força; e Jesus não se encaixava nesse perfil. Preferiram renunciar a
Deus, do que à imagem que d’Ele tinham construído. Há aqui um convite a não
nos fecharmos nos nossos preconceitos e esquemas mentais bem definidos e
arrumados, e a purificarmos continuamente, em diálogo com os irmãos que
partilham a mesma fé, na escuta da Palavra revelada e na oração, a nossa
perspectiva acerca de Deus.
¨ Para os habitantes de Nazaré Jesus era apenas “o carpinteiro” da terra, que nunca
tinha estudado com grandes mestres e que tinha uma família conhecida de todos,
que não se distinguia em nada das outras famílias que habitavam na vila; por isso,
não estavam dispostos a conceder que esse Jesus – perfeitamente conhecido,
julgado e catalogado – lhes trouxesse qualquer coisa de novo e de diferente… Isto
deve fazer-nos pensar nos preconceitos com que, por vezes, abordamos os
nossos irmãos, os julgamos, os catalogamos e etiquetamos… Seremos sempre
justos na forma como julgamos os outros? Por vezes, os nossos preconceitos não
nos impedirão de acolher o irmão e a riqueza que Ele nos traz?
¨ Jesus assume-Se como um profeta, isto é, alguém a quem Deus confiou uma
missão e que testemunha no meio dos seus irmãos as propostas de Deus. A
nossa identificação com Jesus faz de nós continuadores da missão que o Pai Lhe
confiou. Sentimo-nos, como Jesus, profetas a quem Deus chamou e a quem
enviou ao mundo para testemunharem a proposta libertadora que Deus quer
oferecer a todos os homens? Nas nossas palavras e gestos ecoa, em cada
momento, a proposta de salvação que Deus quer fazer a todos os homens?
¨ Apesar da incompreensão dos seus concidadãos, Jesus continuou, em absoluta
fidelidade aos planos do Pai, a dar testemunho no meio dos homens do Reino de
Deus. Rejeitado em Nazaré, Ele foi, como diz o nosso texto, percorrer as aldeias
dos arredores, ensinando a dinâmica do Reino. O testemunho que Deus nos
chama a dar cumpre-se, muitas vezes, no meio das incompreensões e
oposições… Frequentemente, os discípulos de Jesus sentem-se desanimados e
frustrados porque o seu testemunho não é entendido nem acolhido (nunca
aconteceu pensarmos, depois de um trabalho esgotante e exigente, que estivemos
a perder tempo?)… A atitude de Jesus convida-nos a nunca desanimar nem
desistir: Deus tem os seus projectos e sabe como transformar um fracasso num
êxito.
( In Pagina dos Dehonianos)