07 novembro, 2009

A Mensagem nº 100 de 08 de Novembro de 2009










Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Mc 12,41-44

Naquele tempo, Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa.
Muitos ricos deitavam quantias avultadas.
Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.
Jesus chamou os discípulos e disse-lhes:
«Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros.
Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».

Reflectindo

Qual é o verdadeiro culto que Deus espera de nós? Qual deve ser a nossa resposta à sua oferta de salvação? A forma como Jesus aprecia o gesto daquela pobre viúva não deixa lugar a qualquer dúvida: Deus não valoriza os gestos espectaculares, cuidadosamente encenados e preparados, mas que não saem do coração; Deus não se deixa impressionar por grandes manifestações cultuais, por grandes e impressionantes manifestações religiosas, cuidadosamente preparadas, mas hipócritas, vazias e estéreis… O que Deus pede é que sejamos capazes de Lhe oferecer tudo, que aceitemos despojar-nos das nossas certezas, das nossas manifestações de orgulho e de vaidade, dos nossos projectos pessoais e preconceitos, a fim de nos entregarmos confiadamente nas suas mãos, com total confiança, numa completa doação, numa pobreza humilde e fecunda, num amor sem limites e sem condições. Esse é o verdadeiro culto, que nos aproxima de Deus e que nos torna membros da família de Deus. O verdadeiro crente é aquele que não guarda nada para si, mas que, dia a dia, no silêncio e na simplicidade dos gestos mais banais, aceita sair do seu egoísmo e da sua auto-suficiência e colocar a totalidade da sua existência nas mãos de Deus
• Como na primeira leitura, também no Evangelho temos um exemplo de uma mulher pobre (ainda mais, uma viúva, que pertence à classe dos abandonados, dos débeis, dos mais pobres de entre os pobres), que é capaz de partilhar o pouco que tem. Na reflexão bíblica, os pobres, pela sua situação de carência, debilidade e necessidade, são considerados os preferidos de Deus, aqueles que são objecto de uma especial protecção e ternura por parte de Deus. Por isso, eles são olhados com simpatia e até, numa visão simplista e idealizada, são retractados como pessoas pacíficas, humildes, simples, piedosas, cheias de “temor de Deus” (isto é, que se colocam diante de Deus com serena confiança, em total obediência e entrega). Este retrato, naturalmente um pouco estereotipado, não deixa de ter um sólido fundo de verdade: só quem não vive para as riquezas, só quem não tem o coração obcecado com a posse dos bens (falamos, naturalmente, do dinheiro, da conta bancária; mas falamos, igualmente, do orgulho, da auto-suficiência, da vontade de triunfar a todo o custo, do desejo de poder e de autoridade, do desejo de ser aplaudido e admirado) é capaz de estar disponível para acolher os desafios de Deus e para aceitar, com humildade e simplicidade, os valores do Reino. Esses são os preferidos de Deus. O exemplo desta mulher garante-nos que só quem é “pobre” – isto é, quem não tem o coração demasiado cheio de si próprio – é capaz de viver para Deus e de acolher os desafios e os valores do Reino • A figura dos doutores da Lei está em total contraste com a figura desta mulher pobre. Eles têm o coração completamente cheio de si; estão dominados por sentimentos de egoísmo, de ambição e de vaidade, apostam tudo nos bens materiais, mesmo que isso implique explorar e roubar as viúvas e os pobres… Na verdade, no seu coração não há lugar para Deus e para os outros irmãos; só há lá lugar para os seus interesses mesquinhos e egoístas. Eles são a antítese daquilo que os discípulos de Jesus devem ser; não apreciam os valores do Reino e, dessa forma, não podem integrar a comunidade do Reino. Podem ter atitudes que, na aparência, são religiosamente correctas, ou podem mesmo ser vistos como autênticos pilares da comunidade do Povo de Deus; mas, na verdade, eles não fazem parte da família de Deus. Nunca é demais reflectirmos sobre este ponto: quem vive para si e é incapaz de viver para Deus e para os irmãos, com verdade e generosidade, não pode integrar a família de Jesus, a comunidade do Reino
Jesus ensina-nos, neste episódio, a não julgarmos as pessoas pelas aparências. Muitas vezes é precisamente aquilo que consideramos insignificante, desprezível, pouco edificante, que é verdadeiramente importante e significativo. Muitas vezes Deus chega até nós na humildade, na simplicidade, na debilidade, nos gestos silenciosos e simples de alguém em quem nem reparamos. Temos de aprender a ir ao fundo das coisas e a olhar para o mundo, para as situações, para a história e, sobretudo, para os homens e mulheres que caminham ao nosso lado, com o olhar de Deus. É precisamente isso que Jesus faz
• Uma das críticas que Jesus faz aos doutores da Lei é que eles se servem da religião, da sua posição de intérpretes oficiais e autorizados da Lei, para obter honras e privilégios. Trata-se de uma tentação sempre presente, ontem como hoje… Em nenhum caso a nossa fé, o nosso lugar na comunidade, a consideração que as pessoas possam ter por nós ou pelas funções que desempenhamos podem ser utilizadas, de forma abusiva, para “levar a água ao nosso moinho” e para conseguir privilégios particulares ou honras que não nos são devidas. Utilizar a religião para fins egoístas é um comércio ilícito e abominável, e constitui um enorme contra-testemunho para os irmãos que nos rodeiam

Para meditar


A menina e o pássaro


Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os outros: Era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta, vão embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão."- Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti...".E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça."... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes. E de novo começavam as estórias.A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre. Mas chegava sempre uma hora de tristeza. "- Tenho que ir", ele dizia."- Por favor não vás, fico tão triste, terei saudades e vou chorar....". "- Eu também terei saudades", dizia o pássaro. "-- Eu também vou chorar. Mas eu vou te contar um segredo: As plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades.Eu deixarei de ser um pássaro encantado e tu deixarás de me amar.Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite. Imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada."- Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz". Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu.Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.Foi acorda-da de madrugada, com um gemido triste do pássaro."- Ah! Menina... Que é que fizes-te? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias...".Sem a saudade, o amor irá embora... A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente.Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio; deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo... Até que não mais agüentou.Abriu a porta da gaiola."- Podes ir, pássaro, volta quando quiseres...". "- Obrigado, menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que ficares com saudades, eu ficarei mais bonito.Sempre que eu ficar com saudades, tu ficarás mais bonita. E tu te enfeitarás para me esperar... E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia."- Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo...".E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos..."- Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje... Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. Porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar AH! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama...E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento.- Quem sabe ele voltará amanhã....E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.
Rubem Alves

Com Interesse


Santo Godofredo


Os pais de Godofredo rezaram muito para que Deus lhes desse um herdeiro. Até que em 1066, ele nasceu no castelo da família em Soissons, onde foi batizado com um nome que já apontava a direção que seguiria. Godofredo quer dizer: paz de Deus, e foi o que este francês espalhou por onde passou durante toda a vida. Com cinco anos foi entregue para ser educado pelos monges beneditinos e do convívio com a religiosidade nunca mais se afastou. Quando a educação se completou, foi para o convento de São Quintino e ordenando-se sacerdote aos vinte e cinco anos de idade. A sua integridade de caráter, profundidade nos conhecimentos dos assuntos da fé, bem como a visão social que demonstrava, logo chamaram a atenção dos superiores. Tanto que foi nomeado abade do convento de Nogent com a delicada missão de restabelecer as regras disciplinares dos monges, muito afastados do ideal da vida cristã. Em poucos anos a comunidade mudou completamente, tornando-se um centro que atraía religiosos de outras localidades que ali passaram a buscar orientação e conselhos de Godofredo. Quando os monges de um convento, famoso, rico e poderoso, o convidaram para ser o abade, ele recusou. O que desejava era viver no seguimento de Cristo dedicando-se à caridade e trabalhando no amparo e proteção aos pobres e doentes, e não o poder ou a ostentação. Era comum ver os mendigos e leprosos participando da sua mesa, pois acolhia todos os necessitados com abrigo e esmolas fartas. Suas virtudes levaram o povo e o clero a eleger Godofredo, Bispo de Amiens, mas ele só aceitou a diocese depois de receber ordem escrita do próprio Papa. Outra missão difícil para Godofredo. Alí os ricos e poderosos preferiam a vida de muitos vícios, prazeres e luxos, sem nenhuma virtude e ligação com os ensinamentos cristãos. Começou empregando toda a força e eloqüência de sua pregação contra esses abusos denunciando-os do próprio púlpito. O que quase lhe causou a morte num atentado encomendado. Colocaram veneno em seu vinho, mas o plano foi descoberto antes. Considerando-se inapto renunciou o cargo e se retirou para um local ermo. Só que nem os superiores nem o povo aceitaram a demissão e Godofredo foi reconduzido ao cargo. Mas foi por pouco tempo. Durante uma peregrinação à igreja de São Crispim e São Crispiniano, situada em Soissons, sua cidade natal, ele adoeceu. Morreu no dia 08 de novembro de 1115, no convento dedicada aos dois santos padroeiros dos sapateiros, onde foi enterrado.

02 novembro, 2009

A Mensagem nº 99 de 01 de Novembro de 2009







Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo, segundo São Mateus




Mt 5,1-12






Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

Com Interesse


HISTÓRIA DO DIA DE TODOS OS SANTOS


A festa do dia de Todos-os-Santos é celebrada em honra de todos os santos e mártires, conhecidos ou não. A Igreja Católica celebra a Festum omnium sanctorum a 1 de novembro seguido do dia dos fiéis defuntos a 2 de novembro. A Igreja Ortodoxa celebra esta festividade no primeiro domingo depois do Pentecostes, fechando a época litúrgica da Páscoa. Na Igreja Luterana o dia é celebrado principalmente para lembrar que todas as pessoas batizadas são santas e também aquelas pessoas que faleceram no ano que passou.O dia de todos os santos com o objetivo de suprir quaisquer faltas dos fiéis em recordar os santos nas celebrações das festas ao longo do ano. Esta tradição de recordar (fazer memória) os santos está na origem da composição do calendário litúrgico, em que constavam inicialmente as datas de aniversário da morte dos cristãos martirizados como testemunho pela sua fé, realizando-se nelas orações, missas e vigílias, habitualmente no mesmo local ou nas imediações de onde foram mortos, como acontecia em redor do Coliseu de Roma. Posteriormente tornou-se habitual erigirem-se igrejas e basílicas dedicadas em sua memória nesses mesmos locais.O desenvolvimento da celebração conjunta de vários mártires, no mesmo dia e lugar, deveu-se ao facto frequente do martírio de grupos inteiros de cristãos e também devido ao intercâmbio e partilha das festividades entre as dioceses/eparquias por onde tinham passado e se tornaram conhecidos. A partir da perseguição de Diocleciano o número de mártires era tão grande que se tornou impossível designar um dia do ano separado para cada um. O primeiro registo (Século IV) de um dia comum para a celebração de todos eles aconteceu em Antioquia, no domingo seguinte ao de Pentecostes, tradição que se mantém nas igrejas orientais.Com o avançar do tempo, mais homens e mulheres se sucederam como exemplos de santidade e foram com estas honras reconhecidos e divulgados por todo o mundo. Inicialmente apenas mártires (com a inclusão de São João Baptista), depressa se deu grande relevo a cristãos considerados heróicos nas suas virtudes, apesar de não terem sido mortos. O sentido do martírio que os cristãos respeitam alarga-se ao da entrega de toda a vida a Deus e assim a designação "todos os santos" visa celebrar conjuntamente todos os cristãos que se encontram na glória de Deus, tenham ou não sido canonizados (processo regularizado, iniciado no Século V, para o apuramento da heroicidade de vida cristã de alguém aclamado pelo povo e através do qual pode ser chamado universalmente de beato ou santo, e pelo qual se institui um dia e o tipo e lugar para as celebrações, normalmente com referência especial na missa).Segundo o ensinamento da Igreja, a intenção catequética desta celebração que tem lugar em todo o mundo, ressalta o chamamento de Cristo a cada pessoa para o seguir e ser santo, à imagem de Deus, a imagem em que foi originalmente criada e para a qual deve continuar a caminhar em amor. Isto não só faz ver que existem santos vivos (não apenas os do passado) e que cada pessoa o pode ser, mas sobretudo faz entender que são inúmeros os potenciais santos que não são conhecidos, mas que da mesma forma que os canonizados igualmente vêem Deus face a face, têm plena felicidade e intercedem por nós. O Papa João Paulo II foi um grande impulsionador da "vocação universal à santidade", tema renovado com grande ênfase no Segundo Concílio do Vaticano.Nesta celebração, o povo católico é conduzido à contemplação do que, por exemplo, dizia o Cardeal John Henry Newman (Venerável ainda não canonizado): não somos simplesmente pessoas imperfeitas em necessidade de melhoramentos, mas sim rebeldes pecadores que devem render-se, aceitando a vida com Deus, e realizar isso é a santidade aos olhos de Deus.

Para meditar



A REALIDADE DE DEUS


Durante a Guerra civil Americana, eu era cirurgião do exército dos EUA e depois da batalha de Gettysburg haviam muitas centenas de soldados feridos no meu hospital. Entre eles, vinte e oito estavam tão seriamente feridos que necessitavam de meus serviços imediatamente. Alguns cujas pernas tinham sido amputadas, alguns os braços e ainda outros, o braço e a perna. Um dos que estavam neste caso, era um rapaz que tinha estado ao serviço três meses e por ser muito jovem, foi alistado como tocador de tambor. Quando meu assistente e um enfermeiro tentaram ministrar-lhe clorofórmio, antes da amputação, o soldado recusou-se a aceitar o medicamento e disse:"Por favor chame o médico".Quando eu cheguei ao lado de sua cama, eu disse-lhe:"Jovem, porque recusas-te o clorofórmio? Quando eu te encontrei no campo de batalha, estavas tão mal que eu achei que talvez não suportasses, mas quando abris-te os teus grandes olhos azuis eu pensei que tua mãe em algum lugar poderia estar pensando em seu filho. Eu não queria que morresses no campo de batalha então eu ordenei que te trouxessem para cá; Tu perdes-te muito sangue e estás fraco para suportar uma operação sem o clorofórmio e deste modo acho que seria melhor aceitares a medicação". Ele colocou sua mão sobre a minha mão e olhando para mim disse:"Doutor, uma vez num domingo à tarde na igreja, quando eu tinha nove anos e meio eu dei meu coração a Cristo. Desde então eu aprendi a confiar Nele e sei que posso confiar Nele agora. Ele é minha força e meu estímulo. Ele me sustentará enquanto o senhor amputar meu braço e minha perna".Eu então perguntei-lhe se ele me permitia dar-lhe um pouco de conhaque. Mais uma vez ele olhou para mim e disse:"Doutor, quando eu tinha cinco anos, minha mãe ajoelhou-se a meu lado e pondo seus braços ao redor de meu pescoço, disse:"Charlie, eu estou rezando à Jesus que tu nunca proves bebida alcoólica pois teu pai bebia e morreu bêbado; eu prometi a Deus, que se Ele te desse vida , tu irias alertar jovens contra a bebida. "eu tenho dezassete anos e até agora nunca provei nenhuma bebida mais forte que café ou chá; da forma como estou agora, é muito provável que eu entre na presença de meu Deus: o senhor me mandaria para lá com conhaque no meu estômago?". O modo como o rapaz me olhou, eu nunca esquecerei. Até então eu odiava Jesus, mas respeitei a lealdade daquele rapaz ao seu Salvador e quando eu vi o quanto ele o amava e nele confiava até o fim, alguma coisa me tocou o coração e eu fiz por aquele rapaz o que nunca antes tinha feito por qualquer outro soldado.Eu perguntei-lhe se ele gostaria de falar com o capelão. "Sim senhor" foi a resposta.Quando o capelão chegou, este imediatamente reconheceu o rapaz que encontrava sempre na barraca onde se realizavam as reuniões de oração. Pegando sua mão ele disse:"Bem Charlie, eu sinto muito por te ver nesta situação"."Eu estou bem senhor", respondeu ele." O doutor ofereceu-me clorofórmio mas eu recusei; ele então quis dar-me conhaque o que eu também não aceitei; agora, se o meu Salvador me chamar, eu posso ir ao Seu encontro lúcido". Pode não morrer Charlie", disse o capelão, "mas se o Senhor te chamar, existe alguma coisa que eu possa fazer por ti depois de teres partido?" "Sim respondeu o rapaz, pegue minha pequena bíblia debaixo do meu travesseiro; nela o senhor encontrará o endereço de minha mãe; por favor envie para ela junto com uma carta contando-lhe que desde o dia em que eu sai de casa, eu não deixei que se passasse um dia sem que eu lesse um trecho da Palavra de Deus e que diariamente eu orava a Deus para que abençoasse minha querida mãe; não importava onde eu estivesse, em marcha, no campo de batalha, ou no hospital".Há mais alguma coisa que eu possa fazer por ti meu jovem?" perguntou o capelão."Sim, escreva por favor uma carta ao Padre de minha paróquia ( Sand Street, Brooklyn, New York,)e diga-lhe que eu nunca esqueci seus ensinamentos, orações e bons conselhos; eles tem me acompanhado durante as batalhas e agora na hora de minha morte, eu peço ao meu querido Salvador para abençoar o meu Pároco, isso é tudo". Voltando-se para mim, ele disse:"Agora doutor, eu estou pronto e prometo que eu não gemerei enquanto o senhor cortar o meu braço e a minha perna, mas não use o clorofórmio". "Eu prometo". Mas eu não tive coragem de tomar o bisturi em minhas mãos para fazer a operação, sem primeiro ir à sala ao lado e tomar um estimulante.Enquanto eu cortava a carne, Charlie Coulson nunca gemeu. quando eu peguei a serra para cortar o osso, o rapaz colocou a ponta do seu travesseiro na boca e tudo o que eu pude ouvi-lo dizer foi:"Oh! Jesus, abençoado Jesus! Fica comigo agora". Ele manteve a sua promessa e não deu um gemido sequer.Naquela noite eu não pude dormir, pois para onde eu me virasse, via aqueles olhos azuis e quando eu fechava os olhos eu ouvia as palavras "Abençoado Jesus, fica comigo agora".Pouco depois da meia-noite eu me levantei e fui ao hospital. Eu nunca tinha feito isso antes, a não ser se tivesse sido chamado, mas eu queria ver aquele garoto de novo.Quando eu cheguei, fui informado pelo enfermeiro que dezasseis soldados, dos casos sem esperança tinham morrido e foram levados para a sala dos mortos."Como está o Charlie Coulson, ele está entre os mortos?" perguntei."Não senhor", ele respondeu; ele está dormindo como um bebé". Quando eu vim perto da cama dele, uma das enfermeiras disse-me que lá pelas nove horas, dois Padres Missionários percorreram o hospital para ler a bíblia e resar. Eles estavam acompanhados pelo capelão, que se ajoelhou ao lado da cama de Charlie Coulson e fez uma fervorosa oração; depois eles cantaram ainda de joelhos um lindo hino e Charlie acompanhou-os no louvor. Eu não posso entender, como aquele rapaz, sentindo dores tão terríveis, podia cantar.Cinco dias depois de eu ter amputado o braço e a perna daquele rapaz, ele me mandou chamar e foi dele, naquele dia, que pela primeira vez eu ouvi um sermão sobre o evangelho."Doutor", ele disse, "é chegada a minha hora; eu não espero ver o amanhecer, mas graças à Deus eu estou pronto para partir; antes de morrer eu quero agradecer pela sua gentileza para comigo. Doutor o senhor é judeu e não Crê em Jesus; o senhor poderia ficar aqui e assistir a minha morte, confiando no meu Salvador até o ultimo momento de minha vida?" Eu tentei ficar, mas não consegui. Eu não tinha coragem de permanecer ali vendo um rapaz cristão morrer regozijando-se no amor de um Jesus a quem eu odiava; eu então apressadamente deixei a sala. Vinte minutos mais tarde o enfermeiro que me encontrou em meu consultório, com as mãos sobre o rosto, disse:"Doutor o Charlie Coulson quer vê-lo". "Eu acabei de vê-lo", respondi, "eu não posso vê-lo novamente". "Mas doutor ele quer vê-lo uma vez mais antes de morrer".Eu me preparei para vê-lo e dizer umas palavras finais e vê-lo morrer. Mas acima de tudo eu estava preparado para não me deixar influenciar em relação a Jesus. Quando eu entrei, vi que ele estava morrendo, então eu me sentei ao lado de sua cama.Pedindo-me para segurar na mão dele, ele disse:"Doutor eu o amo porque o senhor é judeu; o melhor amigo que eu tive nesta vida foi um judeu". Eu perguntei quem era esse amigo. Ele responde:"Jesus Cristo, a quem eu quero apresentar antes de morrer. Prometa-me doutor que o senhor não esquecerá o que eu lhe vou dizer agora?" "Eu prometo".Então ele disse:"Cinco dias atrás, enquanto o senhor amputava o meu braço e perna, eu resei ao Senhor Jesus Cristo para que o senhor fosse convertido".Estas palavras penetraram fundo em meu coração, eu não entendia como, enquanto eu estava lhe causando uma intensa dor, ele podia esquecer a sua própria situação e pensar em seu Salvador e na minha alma não convertida. Tudo o que eu pude dizer-lhe naquele momento foi:"Bem meu rapaz, Logo logo estarás bem". Com estas palavras eu deixei-o, e doze minutos mais tarde ele adormeceu, a salvo nos braços de Jesus.Centenas de soldados morreram naquele hospital durante a Guerra, mas eu só segui um até a sepultura e este foi Charles Coulson, o garoto do tambor e eu viajei três milhas para assistir ao seu funeral. Eu fiz com que o vestissem com uniforme novo e fosse colocado num caixão de oficial, com a bandeira dos EUA sobre ele.As palavras daquele rapaz moribundo, causaram-me uma profunda impressão. Eu era rico naquela época, mas eu teria dado cada centavo que eu possuía se eu pudesse crer em Cristo como Charles; mas aquele sentimento não podia ser comprado com dinheiro. Aliás, eu logo me esqueci de tudo a respeito do sermão daquele soldado, mas eu não conseguia me esquecer do rapaz. Hoje eu sei que naquela época eu estava profundamente convencido do pecado mas eu lutei contra Cristo com todo o ódio de um judeu ortodoxo durante quase dez anos, até que finalmente, a oração do querido rapaz foi ouvida e Deus converteu a minha alma.Quase dezoito meses depois da minha conversão, uma noite eu estava assistindo a uma reunião de um grupo de oração no Brooklyn. Era uma daquelas reuniões onde as pessoas dão testemunho sobre a bondade e o amor do Salvador.Depois de diversos testemunhos uma senhora idosa levantou-se e disse: "Caros amigos, esta pode ser a última vez que eu tenho o privilégio de testemunhar por Cristo.Meu médico disse-me ontem que meu pulmão direito já quase se foi e o esquerdo já foi muito afectado; assim eu tenho pouco tempo para estar com vocês mas o que tenho, pertence a Jesus. É com grande alegria que eu devo encontrar meu filho com Jesus no céu.Meu filho não foi somente um soldado deste país, mas também um soldado de Cristo.Ele foi ferido na batalha de Gettyburg e foi parar nas mãos de um médico judeu, que amputou o seu braço e perna, mas ele viveu ainda cinco dias. O capelão do regimento escreveu-me uma carta e enviou-me junto com a bíblia do meu filho. Na carta, eu fui informada que o meu Charlie na sua hora da morte, chamou o médico judeu e disse-lhe: "Doutor, antes de morrer eu queria lhe dizer que a cinco dias atrás quando o senhor amputou meu braço e minha perna, eu resei ao Senhor Jesus Cristo para salvar a sua alma".Quando eu ouvi estas palavras eu não suportei mais ficar sentado. Eu deixei o meu lugar, atravessei o salão e tomando a mão daquela senhora, disse:"Deus a abençoe querida irmã: a oração de seu filho foi ouvida. Eu sou o médico judeu por quem Charlie resou e o Salvador dele é agora o meu Salvador também". Dr. M. L. Rossvally