14 fevereiro, 2009

A Palavra


Naquele tempo, veio ter com Jesus um leproso.
Um leproso só poderia ser um “grande pecador”… carregando tão horrível fardo por castigo de Deus, segundo a mentalidade de então. O leproso é um impuro por excelência, excluído da convivência dos seus, deveria andar em lugares solitários, não poderia entrar na cidade e muito menos no templo; até o acesso a Deus lhe estava vedado. É um “morto” civil e religioso, que não se podia relacionar com ninguém. Ele deveria guardar distâncias e gritar “impuro, impuro”, como ensina Lv 13,45, alertando, deste modo, quem andava por perto.

Mas, naquele dia, este leproso, vencendo a barreira da lei e da exclusão, não respeitou a distância para as pessoas sãs, correu o risco de ser denunciado e… veio ter com Jesus. Impensável para um “impuro”. O desespero impeliu-o a tamanha loucura. Mas que tem ele a perder, se já nada lhe resta? E assim, naquele dia, o impuro está diante do puro por excelência… e sem mediadores! Que sucederá? Que fará Jesus? Nós já o sabemos; mas, porque tardo eu a ir ter com Jesus? Por mais horrenda que seja a nossa “lepra”, que nos rouba o convívio com os mais queridos e com o próprio Deus… nunca, nunca é tarde para ir ter com Jesus. E o milagre acontecerá!

Senhor Jesus, tu conheces a minha miséria, conheces a “lepra” que me consome, que me mantém afastado de ti e dos que mais amo. Mas hoje venho até ti, assim como sou, assim como estou, talvez irreconhecível, desfiguradas as minhas mãos, porque não constroem o teu reino, desfigurado o meu rosto, porque não reflecte o teu brilho, desfigurado o meu coração, porque se tornou mais frio, longe de ti e dos irmãos… Mas, hoje, Senhor, venho até ti para reencontrar a pureza do meu corpo e do meu coração. Perdoa a minha impureza e o meu atrevimento, mas hoje é um dia especial: hoje estou contigo. É a minha grande oportunidade.

Prostrou-se de joelhos e suplicou-lhe: «Se quiseres, podes curar-me».
Curar a lepra é uma acção exclusiva de Deus: “Serei eu Deus para dar a morte e a vida?” (2Re 5,7), disse Eliseu a quem pretendia que libertasse Naamã da lepra. O querer de Deus é dar a vida. O leproso quer ser purificado, mas como não pode, confia a sua cura à vontade de Jesus.

Este leproso não se limitou a ir ter com Jesus. Certamente ouvira falar dele e depositou nele toda a sua confiança, a sua vida, a sua razão de existir. Jesus era a sua última esperança. Aquela era a sua grande oportunidade. Prostrou-se de joelhos em terra, aceitando a decisão de Jesus, e depois, cheio de fé, suplicou-lhe que o purificasse, que o retirasse do reino dos “mortos” e o restituísse ao convívio dos vivos… “se quiseres, podes curar-me”. Este homem soube depositar a sua sorte nas mãos de Jesus… e não saiu defraudado! Não será isto que Jesus “quer”? Se ainda não conseguimos libertar-nos da nossa “lepra” é porque, talvez, só nos preocupemos com o que “eu quero” e não nos atrevemos a dizer: “Senhor, se quiseres…”. Depois, o resto já o sabemos!

Senhor, aqui me tens, de joelhos por terra, mãos estendidas para ti e olhos fixos nos teus: “Se quiseres, podes curar-me”. Purifica-me, Senhor, restitui-me à vida, restitui força aos meus braços, para me juntar aos teus, restitui amor ao meu coração, para que a minha vida seja uma explosão desse amor, restitui-me à vida dos irmãos, para que possa ser, entre eles, sinal de ti. Aqui me tens, Senhor: “Se quiseres, podes curar-me”. Em ti deposito a minha esperança, a minha vida. Senhor, “se quiseres…”.
Dificilmente poderemos ser grandes apóstolos, se não experimentarmos um verdadeiro encontro com Jesus. Hoje vou ter com Jesus, prostrar-me diante dele e suplicar-lhe humildemente que nos livre das nossas misérias: “Senhor, se quiseres podes curar-me”. Podemos repetir ao longo do dia esta magnífica oração do leproso.


Padre Amaro Jorge scj