04 maio, 2010

Mãe




Mãe está sempre presente



A revolta, raiva ou indignação comuns de quem perdeu um filho não fazem parte dos sentimentos de Graziela Gilioli. O sentimento desta mãe que perdeu um filho na luta contra o cancro é de «saudade» e «muito orgulho» em ter sido mãe de Alexandre.
Seis anos após a morte do filho, Graziela passa para as páginas de um livro a história do filho, da luta contra a doença e de como a família se ajustou à perda. Uma morte «silenciosa e quieta», como contou em entrevista à TVI.
Alexandre tinha 12 anos quando surgiram os primeiros sinais da doença. No final de uma corrida de kart, a mãe reparou que Alê, como tratava o filho, não estava feliz, apesar da vitória. Surgiram as primeiras queixas: dores nas costas, a que se seguiu sangue na urina.
Inicialmente pensaram tratar-se de uma infecção urinária, mas mais tarde o diagnóstico revelou-se bem mais preocupante. Alexandre tinha um cancro na glândula supra-renal esquerda.
Mais tarde surgiu um novo tumor perto do pulmão. «A respiração dele passou a ser muito suave, muito lenta e quase inaudível. A última vez que ele deu um suspiro foi muito leve e por isso eu digo que foi uma morte suave», explica Graziela.
«Alê, a mamã está aqui»
E o último suspiro de Alexandre foi dado ao lado da mãe. «Cheguei perto dele e disse "Alê, a mamã está aqui" e é como se num passo de mágica ele parasse de respirar, como se me tivesse ouvido», conta Graziela Gilioli.
A perda de um filho após uma doença prolongada é comparada pela autora de «O Meu Pequeno Médico» com a maternidade, na qual a mãe só materializa a ideia do filho ser um ser autónomo após o parto. «Durante a doença é como se fosse uma gestação. Fica-se aguardando o momento que vai ter um fim, mas quando isso se realiza você não consegue quase que acreditar», explica.
Vai fazer em Agosto sete anos que Alexandre morreu. «Revolta, raiva e uma certa indignação com a vida nunca tive», esclarece.
«Na verdade eu tenho muito orgulho em ter sido a mãe do Alexandre, porque ele me ajuda a ser uma pessoa melhor», acrescenta.
O nome do livro deve-se a tudo o que Gabriela aprendeu com o filho: «Ele é o meu pequeno médico porque me ensinou muita coisa. Eu estudei sociologia, administração de marketing, fiz MBA, mas tudo o que aprendi com o Alexandre em 20 meses de hospital não se compara com todos esses anos de estudo que tive».
Ainda presente todos os dias
A existência deste livro dá um novo sentido à vida de Graziela. «Cada pessoa que lê o livro conhece o meu filho. Então se as pessoas conhecem o Alexandre, mesmo através das minhas palavras, é como se ele estivesse mais neste mundo do que no outro», explica.
Para as outras mães que podem viver a situação da doença prolongada de um filho, Graziela deixa um conselho sábio: «Não economize os beijos, os abraços, as conversas, o ficar acordada a noite inteira. E deve aproveitar a parte boa da doença, que é a intimidade, a cumplicidade, e que é realmente conhecer o seu filho de uma maneira muito intensa e muito profunda».
Já para quem perde um filho, esta mãe que viveu esta experiência deixa palavras reconfortantes: «Pense sempre nele, porque assim ele vai estar sempre com você».