05 junho, 2010




O PÃO DE CRISTO

O que se segue é um relato verídico sobre um homem chamado Victor.
Depois de meses sem encontrar trabalho, viu-se forçado a recorrer à mendicidade para sobreviver, coisa que o entristecia e envergonhava muito. Numa tarde fria de inverno, encontrava-se nas imediações de um restaurante de luxo quando viu chegar um casal. Victor pediu-lhe algumas moedas para poder comprar algo para comer. - Não tenho trocos - foi a resposta seca. A mulher dele, ouvindo a resposta perguntou: - Que queria o pobre homem? - Dinheiro para comer. Disse que tinha fome - respondeu o marido encolhendo os ombros. - Lourenço, não podemos entrar e comer comida farta de que não necessitamos e deixar um homem faminto aqui fora! - Hoje em dia há um mendigo em cada esquina! Aposto que ele quer é dinheiro para beber! - Tenho uns trocos comigo. Vou dar-lhe alguma coisa! Mesmo de costas para eles, Victor ouviu tudo o que diziam. Envergonhado, queria afastar-se e fugindo dali, mas a voz amável voz da mulher reteve-o: - Aqui tem qualquer coisa. Consiga algo de comer, ainda que a situação esteja difícil, não perca a esperança. Em algum lugar existe trabalho para si. Faço votos para que o encontre. - Muito obrigado, minha senhora. A senhora ajuda-me a recobrar o ânimo! Nunca esquecerei a sua gentileza. - Você vai comer o Pão de Cristo! Partilhe-o - acrescentou ela com um largo sorriso dirigido mais ao homem do que ao mendigo. Victor sentiu como se uma descarga eléctrica lhe percorreu o corpo. Foi a um lugar barato para comer um pouco. Gastou só metade do que tinha recebido e resolveu guardar o restante para o dia seguinte, comeria do 'Pão de Cristo' dois dias. Mais uma vez mais sentiu aquela descarga eléctrica a percorrer-lhe o corpo: O PÃO DE CRISTO!
"Um momento! - pensou - Eu não posso guardar o 'Pão de Cristo' só para mim". Na sua cabeça parecia-lhe como que escutar o eco de um velho hino que tinha aprendido na catequese. Neste momento, passava um velhote ao seu lado. - Quem sabe, se este pobre homem também tem fome - pensou - Tenho de partilhar o 'Pão de Cristo'.- Ouça - chamou Víctor - Quer entrar e comer uma comidinha quentinha? O velho voltou-se e encarou-o de olhar incrédulo. - Está a falar sério, amigo? O homem não acreditava em tanta sorte, até que se tivesse sentado à mesa coberta com uma toalha e com um belo prato de comida quente à frente. Durante a refeição, Víctor reparou que o homem envolveu um pedaço de pão num guardanapo de papel. - Está a guardar um pouco para amanhã? - Perguntou. - Não, não. É que vi um miúdo da rua que conheço e que tem passado mal ultimamente, ele estava a chorar com fome quando o deixei. Vou levar-lhe este pão.- O Pão de Cristo! - Recordou novamente as palavras da senhora e teve a estranha sensação de que havia um terceiro convidado sentado naquela mesa. Ao longe os sinos da igreja pareciam entoar o velho hino que antes tinha ressoado na sua cabeça. Os dois homens foram levar o pão ao menino faminto que o começou a devorar com alegria. Subitamente, deteve-se e chamou um cãozinho, um cachorrinho pequeno e assustado. - Toma lá. Metade é para ti - disse o menino. O Pão de Cristo também chegará para ti. O catraio tinha mudado de semblante. Pôs-se de pé e começou a correr com alegria. - Até logo! - disse Victor ao velho - Em algum lugar encontrará um emprego. Não desespere! Sabe? - sussurrou - Isto que comemos é o Pão de Cristo. Foi uma senhora que me disse quando me deu aquelas moedas para o comprar. O futuro só nos poderá trazer algo de muito bom! Enquanto se afastava, Victor reparou melhor no cachorrinho, que lhe farejava as pernas. Abaixou-se para o acariciar quando descobriu que ele tinha uma coleira onde estava gravado o nome e o endereço do dono. Víctor pegou nele e caminhou um bom bocado até à casa dos donos do cão, e bateu à porta. Ao ver que o seu cãozinho tinha sido encontrado o homem primeiro ficou todo contente, depois tornou-se mais sério, pensando que se calhar o teriam roubado, mas encarando a cara séria de Victor e vendo no seu rosto um ar de dignidade, disse então: - Pus um anúncio no jornal oferecendo uma recompensa a quem encontrasse o cão. Tome! Victor olhou o dinheiro meio espantado e disse:- Não posso aceitar. Eu apenas queria fazer bem ao animal. - Pegue-lhe! Para mim, o que você fez vale muito mais que isto! E olhe, se precisar de emprego vá amanhã ao meu escritório. Faz-me falta, ao pé de mim, uma pessoa íntegra assim. Victor, ao voltar pela avenida, como que volta a ouvir aquele velho hino que recordava a sua infância e que ressoava na alma. Chamava-se
'REPARTE O PÃO DA VIDA'.
NÃO VOS CANSEIS DE DAR, MAS NÃO DÊS SOBRAS, DAI-O COM O CORAÇÃO, MESMO QUE DOA'. QUE O SENHOR NOS CONCEDA A GRAÇA DE TOMAR A NOSSA CRUZ E SEGUÍ-LO, MESMO QUE DOA!