09 abril, 2010















Destino


O príncipe Oleg era um poderoso nobre russo, e sua fama, coragem e justiça eram conhecidas por todo o reino. Ao mesmo tempo, Oleg tinha um misticismo muito forte, não combatia seus inimigos antes de ouvir seu profeta, Agal.Numa fria manhã de inverno, o príncipe Oleg estava ansioso, pois, naquele dia, comandaria um imenso exército contra um país hostil vizinho. Antes de partir, foi falar com Agal:- Meu venerável profeta, quem vencerá essa guerra?O profeta de longa barba grisalha pegou uma vasilha de metal, despejou-lhe água e algumas ervas, fez orações com palavras incompreensíveis e respondeu:- Não temas nada. Com certeza sairás vitorioso.O espírito do príncipe inflou-se, seus olhos ganharam vitalidade; agora restava apenas uma pergunta:- E quando e quem me vai matar?Oleg sempre fazia essa pergunta e o profeta sempre evitava a resposta. Mas, desta vez, Agal agarrou os braços e respondeu: - Meu querido Oleg, tua morte está ligada ao cavalo que montas.Ao ouvir aquilo, Oleg desvencilhou-se abruptamente dos braços do profeta e disse:- Não pode ser! Eu amo meu cavalo, somos parceiros inseparáveis, ele é o melhor corcel de toda a Rússia.- Nada posso fazer contra o destino. Será teu corcel que porá fim a tua vida – disse Agal.Antes de ir para guerra, Oleg tomou uma decisão que partiu seu coração. Mandou que seu cavalo fosse levado para um campo distante do seu castelo, ordenou que lá fosse alimentado e cuidado como jamais outro animal o fora. Também deixou ordens expressas para que o cavalo nunca mais se aproximasse dele.O príncipe foi para guerra e, como predissera Agal, foi o vencedor. Depois de muitos anos de paz e justiça, Oleg continuava vigoroso, mas a idade já lhe mordia os tornozelos, os fios de cabelo branco dominavam toda a paisagem da cabeça principesca.Um dia, almoçando com seu filho Igor, Oleg lembrou-se da profecia de Agal sobre seu cavalo. Depois de contar a história ao filho, chamou um empregado e disse:- Faz muito tempo que não recebo notícias do meu antigo cavalo, quero saber sobre seu paradeiro.O empregado fez uma reverência, afastou-se e depois de alguns minutos retornou com a resposta:- O palafreneiro informou que seu antigo cavalo morreu há mais de dois anos.Oleg, ao ouvir tal notícia, levantou-se da mesa, amparou-se nos ombros do filho e disse:- Levem-me até o lugar onde meu animal tombou.Oleg, Igor e o cavalariço viajaram até o campo em que o animal tinha morrido.O empregado mostrou a carcaça do cavalo.- Estás vendo, Igor? Este cavalo foi meu grande companheiro. O falecido Agal errou a sua profecia, estou aqui vivo olhando meu animal morto.O príncipe, com os olhos marejados de légrimas, agachou-se para fazer um carinho na caveira branca do antigo companheiro.
Mas ele não sabia que aquela ossada se tinha transformado na habitação de uma perigosa serpente, e, assim que pousou a mão no esqueleto, levou uma picada e morreu.

Fonte: BRENMAN, Illan. Contador de Histórias de Bolso: Rússia. São Paulo: Moderna, 2009