26 outubro, 2009

Reflectindo

1.ª Leitura (Jer 31, 7-9): “ O Senhor salvou o seu povo, o resto de Israel”Jeremias não foi só “profeta de desgraças” e destruição. O trecho desta leitura faz parte duma recolha de oráculos de restauração, compostos em várias épocas. Aqui se dá voz à alegria perante o regresso à pátria dos israelitas exilados. A leitura começa com um invitatório dirigido a toda a assembleia dos crentes para que regozijem pela salvação do “resto” de Israel, o povo predilecto do Senhor (“a primeira das nações”). A salvação é descrita como regresso e reunião: a omnipotência divina não conhece limites de espaço nem dificuldade de percursos. E aqui trata-se da omnipotência do amor cheio de compaixão e ternura de um Deus que é Pai.Evangelho (Mc 10, 46-52): “Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te”O caminho do cego de Jericó para a verdadeira luz apresenta-se como um itinerário exemplar para quem, da tristeza duma existência opaca e sem futuro, quer alcançar a meta da vida autêntica. “Quando Jesus ia a sair de Jericó...”: Jesus, apresta-se a percorrer os últimos trinta quilómetros da sua peregrinação a Jerusalém onde celebrará a sua última Páscoa. Com ele caminham os discípulos por entre uma multi-dão de adeptos e peregrinos. Na berma da es-trada, um cego mendigava. Marcos registou o seu nome: Bartimeu. Era cego mas ouvia bem. E pelo rumor da gente que passava depreendeu que entre os peregrinos seguia o famoso Rabi de Nazaré, do qual ouvira, certamente, relatar maravilhas. O seu grito de apelo é ao mesmo tempo um acto de fé e de esperança. “Jesus, filho de David...”: É a primeira vez que S. Marcos regista este título, que evocava expectativas messiânicas nacionalistas. Logo após este episódio será relatada a entrada messiânica de Jesus na cidade santa, por entre aclamações semelhantes (Mc 11, 1-11). “Muitos repreendiam-no para que se calasse”: igual tentativa de silenciar os "importunos" aparece noutros episódios (a cananeia, em Mt 10, 13; as crianças, em Mc 10, 13). Mas o cego não desiste, aparecendo assim como exemplo da persistência na oração, tão recomendada pelo Mestre. O curioso é que Jesus, que tantas vezes deu ordem de silêncio às aclamações dos circunstantes, desta vez intervém para atender o suplicante. “Chamai-o”; “Coragem, está a chamar-te”. Aconteceu algo de especial que fez mudar até a atitude do povo. O cego salta, abandona a capa com eventuais esmolas e corre ao encontro do Mestre que o chama. Agora já não precisa de gritar para expor o seu desejo: “Rabbúni [expressão mais viva e afectuosa do que o habitual Rabbi ], que eu veja!”. “Vai, a tua fé te salvou”: mais importante ainda que a visão corporal é o dom da fé. A vida para Bartimeu nunca mais foi a mesma: pôs-se a seguir Jesus pelo caminho de Jerusalém e do sacrifício, tornando-se paradigma do autêntico discípulo.2.ª Leitura (Hebr 5, 1-6): “Todo o sumo sacerdote (…) é constituído em favor dos homens”O Autor de Heb está a apresentar Jesus como nosso Salvador, na medida em que se tornou participante e solidário da natureza humana. Por isso pode ser nosso Mediador e nosso Sumo Sacerdote. No trecho de hoje temos uma clara definição do sacerdócio de Jesus.Em Cristo Jesus temos um Mediador supremo e universal: santíssimo, que não precisa de oferecer expiações por si, dotado de imensa piedade e solidariedade para com os seus irmãos, que lavou o pecado de todos com o seu sangue, que penetra os céus até ao trono do Eterno onde está, sempre vivo, de pé, em acto de mediação sacerdotal sumamente eficaz em nosso favor.
(Secretariado Nacional da Liturgia)