19 outubro, 2009

Reflectindo

1ª. Leitura (Is 53, 10-11):
“Aprouve ao Senhor esmagar o Seu servo pelo sofrimento”Como 1.ª leitura é-nos proposta uma estrofe do 4.º Canto do Servo de Yahveh, da 2.ª parte do livro de Isaías (o chamado Segundo ou Dêutero-Isaías) datável dos anos 550-530 a.C.Os 2 versículos escolhidos realçam duas dimensões: por um lado a expiação, já que o Servo sofre pelos outros, pelos pecados deles; por outro lado, a exaltação no sentido em que Deus o glorificará porque tomou sobre si tanto sofrimento pelos demais. No seu conjunto, estes dois versículos fornecem um precioso comentário à palavra sobre o resgate pago pelo Filho do Homem que se lê na conclusão do Evangelho de hoje.Evangelho (Mc 10, 35-45):
“Quem entre vós quiser tornar-se grande será vosso servo”Importa recordar o contexto antecedente: Jesus acaba de anunciar aos Doze, pela 3.ª vez, a sua paixão e morte (Mc 10, 32-34). "Na tua glória": segundo a convicção generalizada, o Messias inauguraria em Jerusalém um reino glorioso. Apesar dos repetidos anúncios da paixão, Tiago e João continuam a alimentar expectativas de glória terrena."O cálice"; "o baptismo": no AT é frequente a metáfora do "cálice" das vertigens e sofrimento dos pecadores (cf. Jr 25, 15; Sl 11, 6; 65, 9). Jesus usará a mesma imagem na oração do horto (14, 36). A palavra "baptismo" sugere a mesma ideia: a submersão nas vagas do sofrimento (cf. Lc 12, 50). Jesus implica os discípulos na sua missão de sofrimento. "Para aqueles a que foi reservado (preparado)": o verbo, na voz passiva, remete para um sujeito divino. Os discípulos participarão na entronização messiânica não na base de direitos de humana precedência, mas sim em virtude da iniciativa livre e gratuita do Pai. A "indignação" (ou despeito) dos outros dez dá a Jesus o ensejo de explicitar o estatuto fundamental que deve regular as relações dentro da comunidade eclesial. Demarca-se do modelo da autoridade despótica vigente nas nações e ilustra o seu modelo com duas figuras que se situam nos antípodas: o servo e o escravo. Mas estas imagens não são abstractas, uma vez que representam o caminho e a opção de Jesus, na linha do Servo de Yahweh anunciado por Isaías. "Dar a vida pela redenção (em resgate) de todos (por muitos)": Cristo declara, assim, o carácter soteriológico [referente à doutrina da salvação] da Sua morte. A palavra "resgate" (em gr.: lytron) indicava, entre outras coisas, o preço pago pela libertação dum escravo. Aceitando a sua morte como acto de amor e de libertação dos homens da escravatura do pecado, Jesus dá à comunidade dos discípulos um modelo de amor supremo, que ela deverá reproduzir.2ª. Leitura (Heb 4, 14-16): “Permaneçamos firmes na profissão da nossa fé”Este texto da Carta aos Hebreus introduz a comparação entre Jesus e o Sumo Sacerdote da Antiga Aliança, feita à luz dos rituais do Dia da Expiação. Este era o único dia do ano em que o Sumo Sacerdote entrava no "santo dos santos" do Templo de Jerusalém, com o sangue das vítimas imoladas, para aspergir o "trono da graça", isto é, "propiciatório" (cobertura de ouro da Arca, entre os Querubins, sobre o qual se considerava que Deus estava presente como um rei no seu trono) num ritual de expiação que, embora a título precário (por isso tinha de se repetir todos os anos), alcançava para todo o povo o perdão dos pecados. Com a sua morte, Jesus "penetrou nos céus", isto é, no verdadeiro templo. Fazendo-o, o nosso Sumo Sacerdote não quebrou os vínculos de solidariedade e comunhão que estabeleceu connosco na Sua Incarnação e Paixão. Por isso n' Ele, sempre vivo a interceder em nosso favor, também nós temos acesso ao autêntico "trono da graça". Na verdade, o nosso Sumo Sacerdote alcançou-nos uma redenção radical, plena e definitiva.
(Secretariado Nacional da Liturgia)