13 outubro, 2009

Reflectindo


Comentário às Leituras
1.ª Leitura (Sab 7, 7-11): “Implorei e veio a mim o espírito de sabedoria”A 1.ª leitura pertence à 2.ª parte do livro da Sabedoria em que se apresenta Salomão, o sábio por excelência. No contexto da Liturgia da Palavra deste Domingo, proporciona o "ângulo" e a perspectiva que permitem contemplar o Evangelho. O v. 7 dá o tom: a sabedoria distingue-se radicalmente de todas as outras realidades que o homem pode adquirir pelos seus próprios meios; trata-se de um dom de Deus que, por isso, se pede na oração. Os vv. 8-10 fazem o inventário dos bens que habitualmente se desejam e procuram: poder, riqueza, saúde e beleza. Com a técnica do contraste e da desproporção afirma-se sempre a mesma ideia matriz: é tal a superioridade da sabedoria em relação a todos os outros bens que nem sequer há hipótese de comparação. No v. 11 há uma recuperação de todos os bens, mas como dote da sabedoria. Ao preferir a Sabedoria, Salomão segue de antemão o conselho do Mestre: "procurai antes os bens do alto e tudo o mais vos será dado por acréscimo" (Mt 7, 33).Evangelho (Mc 10, 17-30): "Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus!” O Evangelho deste Domingo recolhe material heterogéneo, mas com uma temática comum (a riqueza): um relato de vocação, uma advertência, uma resposta. O relato é enquadrado por dois movimentos opostos de um homem à procura da felicidade: da corrida inicial, que denota procura entusiasta, ao afastamento final, pesaroso e aflito. Entre os dois movimentos está o chamamento de Jesus (com quatro imperativos, que convidam a dois movimentos também contrapostos e em que o segundo par dá sentido ao primeiro: vai... e dá; vem e segue-me). A procura do homem encontra-se com o amor do Mestre Bom (São Marcos regista o pormenor do olhar afectuoso de Jesus). Mas tanto a procura como a vocação se saldam num fracasso cuja causa está identificada: a escravidão das riquezas. A advertência de Jesus dá-nos um corolário do episódio: o perigo das riquezas ameaça a todos, sem excepção. À maneira oriental, o Mestre serve-se duma hipérbole e duma comparação impossível ("é mais fácil um camelo...") para deixar bem clara a sua mensagem: não se pode escamotear a dificuldade dos ricos se salvarem, que é real e consistente. Note-se que, aqui, Jesus se confronta com a opinião corrente, entre os judeus, que via nas riquezas um sinal da bênção e predilecção divina. Daí a reacção de surpresa e espanto. Mas se aquele homem (um jovem, segundo S. Mateus) desistiu, houve (e há) quem desse ouvidos ao Mestre e o tivesse seguido, deixando tudo. Surge assim a questão implícita de Pedro. Na resposta de Jesus distingue-se uma recompensa futura e definitiva duma recompensa imediata. A primeira é a "vida eterna", a vida que o rico dramaticamente procurara e recusara. A recompensa provisória dos discípulos que renunciam à família e às propriedades está na comunidade cristã: nela encontram uma nova família e uma nova casa.2.ª Leitura (Heb 4, 12-13): “A palavra de Deus é viva e eficaz” Na tradição bíblica a Sabedoria está vinculada à Palavra de Deus com a qual chega, por vezes, a ser identificada. No contexto deste Domingo, a Palavra de Deus é também a grande riqueza que importa acolher. A Palavra de Deus é apresentada sob a metáfora da espada (cf. Ef 6, 17; Ap 1, 16). A esta Palavra é atribuída uma espécie de personificação insistindo-se, em primeiro lugar, que ela é viva, certamente porque realiza acções importantes e vitais. Eficaz e cortante, ela tem uma capacidade de discernimento superior à própria consciência. Ela indaga, ilumina, orienta.