02 março, 2009

A Palavra



O início deste tempo da Quaresma propõe-nos as tentações de Jesus no deserto como primeira etapa de preparação para a Páscoa. A proximidade do Reino de Deus é certeza de caminho novo a ser percorrido. O tempo oportuno é este. Não há outro tempo. Esta é a oportunidade que não pode ser desperdiçada. Por isso, “arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.
O deserto é o lugar do encontro com Deus; foi no deserto que o Povo experimentou o amor e a solicitude de Jahwéh e foi no deserto que Jahwéh propôs a Israel uma Aliança. Contudo, o deserto é também o lugar da “prova”, da “tentação”; foi no deserto que Israel foi confrontado com opções e foi no deserto, também, que Israel sentiu, várias vezes, a tentação de escolher caminhos contrários aos propostos por Deus… O “deserto” para onde Jesus “vai” é, portanto, o “lugar” do encontro com Deus e do discernimento dos seus projectos; e é o “lugar” da prova, onde se é confrontado com a tentação de abandonar Deus e de seguir outros caminhos.
Nesse “deserto”, Jesus ficou “quarenta dias”. O número “quarenta” é bastante frequente no Antigo Testamento. Muitas vezes refere-se ao tempo da caminhada do Povo de Israel pelo deserto, desde que deixou a terra da escravidão, até entrar na terra da liberdade; mas também é usado para significar “toda a vida” (a esperança média de vida, na época, rondava os quarenta anos). Deve ser entendido com o sentido de “toda a vida” ou, então, “todo o tempo que durou a caminhada”.
Durante esse tempo, Jesus foi “tentado por Satanás”. A palavra “satanás” designava, originalmente, o adversário que, no contexto do julgamento, apresentava a acusação. Mais tarde, a palavra vai passar a designar uma personagem que integrava a corte celeste e que acusava o homem diante de Deus.
Na época de Jesus, “satanás” já não era considerado uma personagem da corte celeste, mas um espírito mau, inimigo do homem, que procurava destruir o homem e frustrar os planos de Deus. É neste sentido que ele vai aparecer aqui… “Satanás” representa um personagem que vai tentar levar Jesus a esquecer os planos de Deus e a fazer escolhas pessoais, que estejam em contradição com os projectos do Pai.

O quadro da “tentação no deserto” diz-nos que Jesus, ao longo do caminho que percorreu no meio dos homens, foi confrontado com opções, escolhas difíceis. Ele teve de escolher entre viver na fidelidade aos projectos do Pai e fazer da sua vida um dom de amor, ou seguir por um caminho de egoísmo, de poder, de orgulho. Jesus escolheu viver – de forma total, absoluta, até ao dom da vida – na obediência às propostas do Pai. Os discípulos de Jesus, os que querem ser verdadeiramente cristãos, são confrontados a toda a hora com as mesmas opções. Seguir Jesus é perceber os projectos de Deus e cumpri-los fielmente, fazendo da própria vida uma entrega de amor e um serviço aos irmãos. Estou disposto a percorrer este caminho? De certeza? Como é que o tenho feito? E isso é suficiente? Para Deus não existe a expressão: “já fiz o suficiente

Padre Amaro Jorge scj