08 novembro, 2008

A Palavra


Celebramos hoje a "dedicação" (ou consagração) da Basílica São João de Latrão. Foi a primeira Igreja a ser construída. É a catedral do Papa, como bispo de Roma, a Igreja-Mãe de todas as igrejas do mundo.
Esta festa convida-nos a tomar consciência de que a Igreja de Deus, simbolizada e representada pela Basílica de Latrão, é hoje, no meio do mundo, a "morada de Deus", o testemunho vivo da presença de Deus na caminhada dos homens.
As leituras bíblicas falam do significado do Templo.
Na 1ª Leitura, o Profeta Ezequiel vê sair do TEMPLO uma Água, que gera Vida por onde passa.
O Povo exilado na Babilônia, longe de Jerusalém e do seu templo destruído, é fortalecido pela esperança do surgimento de um novo templo. A Água viva, que brota do templo, simboliza a Vida nova, a salvação oferecida por Deus.

A questão central no texto que a liturgia deste dia nos propõe como primeira leitura é a da presença de Deus no meio dos homens. O nosso texto garante-nos que Deus nunca desiste de Se fazer uma presença amiga e reconfortante na caminhada dos homens e de derramar sobre a humanidade sofredora vida em abundância. Trata-se de uma “boa nova” que devemos ter continuamente presente… As guerras, as injustiças, as convulsões sociais, a depressão económica, os escândalos que abalam a sociedade e que nos fazem desconfiar das instituições, a falência dos líderes em quem confiamos, as notícias diárias sobre a escravatura e o tráfico de seres humanos, a crise de valores, a falta de respeito pela vida humana, desenvolvem em nós sentimentos de angústia, de frustração, de insegurança, de instabilidade, de orfandade. Diante dos dramas que todos os dias nos atingem, sentimo-nos abandonados, perdidos, desnorteados, à deriva… Contudo, para nós, crentes, a certeza de que Deus reside no meio dos homens e derrama continuamente sobre eles vida em abundância é um convite à serenidade, à confiança e à esperança. O mundo não caminha para um beco sem saída, pois Deus está presente em cada passo da caminhada histórica da humanidade. Nós, os crentes, temos de dar testemunho, diante dos nossos contemporâneos, desta certeza que nos anima.
Na 2ª Leitura, São Paulo afirma que somos TEMPLO DE DEUS e morada do Espírito Santo.
Por isso, animados pelo Espírito Santo, devemos ser o Sinal vivo de Deus e testemunhas da salvação diante dos homens do nosso tempo.
No Evangelho, Jesus apresenta-se como o NOVO TEMPLO.
"Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei... Falava do templo do seu corpo". (Jo 2,13-22)
O TEMPLO, na época de Jesus, havia se transformado num grande mercado, num instrumento de exploração. Usavam o nome de Deus para obter lucro e benefícios pessoais.
Jesus quer Purificar o Templo, libertando-o desses exploradores.
Assim entendemos o gesto violento de Cristo, de chicote na mão...
Mas Jesus quer mais: fala de um Novo Templo. Ele é, agora, o "lugar" onde Deus reside no mundo. O corpo de Jesus é lugar de encontro entre Deus e a humanidade. Ao ressuscitar dos mortos o próprio Filho, o Pai colocou-o como pedra fundamental do novo santuário.
Como é que podemos encontrar Deus e chegar até ele?
O Evangelho de hoje responde: é olhando para Jesus. Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus se revela aos homens, manifesta o seu amor, oferece a vida plena, faz-se companheiro de caminhada e aponta caminhos de salvação.

Os cristãos têm de ser pedras vivas desse novo Templo onde Deus se manifesta ao mundo e vem ao encontro dos homens para lhes oferecer a vida e a salvação.
Os homens do nosso tempo têm de ver no rosto dos cristãos o rosto bondoso e terno de Deus;
têm de experimentar, nos gestos de partilha, de solidariedade, de serviço, de perdão dos cristãos, a vida nova de Deus; têm de encontrar, na preocupação dos cristãos com a justiça e com a paz,
o anúncio desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos os homens.


Padre Amaro Jorge scj