30 agosto, 2008

A Palavra

O caminho da Cruz
A Liturgia convida-nos a descobrir a "loucura da CRUZ" e apresenta dois exemplos: JEREMIAS e PEDRO.
Na 1a Leitura, JEREMIAS descreve sua experiência de Cruz. "Seduzido" pelo Senhor, colocou toda a sua vida a serviço de Deus. Nesse caminho conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição. Teve a tentação de largar tudo, mas não desistiu: "Senti dentro de mim um fogo ardente a consumir-me!..."
É o grito humano de um coração dolorido, marcado pela incompreensão e pelo aparente fracasso na Missão... Diante do sofrimento desanima, mas logo se reanima, movido por uma grande paixão por Deus.
Na 2ª Leitura, São Paulo convida os cristãos a oferecerem a Deus a própria vida. Esse é o verdadeiro culto, a melhor oração, que agrada a Deus. (Rm 12,1-2)
No Evangelho, Jesus anuncia aos discípulos a sua Paixão e Cruz e avisa que o caminho dos discípulos é semelhante ao dele. Pedro não concorda e começa a "repreendê-lo". Jesus rejeita energicamente as insinuações de Pedro e responde:
"Afasta-se de mim, Satanás... não pensas as coisas de Deus...”
E acrescenta: "Se alguém me quiser seguir, renuncie a si mesmo,tome a sua CRUZ e siga-me".
Nós temos facilidade em aceitar a Cruz de Jesus, mas temos dificuldade, mesmo com fé, em aceitar a nossa cruz no nosso dia a dia.
Jeremias e Pedro deixam-se "agarrar" por Deus e aceitam cumprir essa grande missão apesar dos inevitáveis sofrimentos, dificuldades e perseguições. Não obstante tudo isso, no final estão convencidas que valeu a pena.

Frente a frente, o Evangelho deste domingo coloca a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus). A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa. A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade, na simplicidade. Na minha vida de cada dia, estas duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a minha escolha? Na minha perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um caminho de felicidade seguro e duradouro?

Quem são os verdadeiros discípulos de Jesus? Muitos de nós receberam uma catequese que insistia em ritos, em fórmulas, em práticas de piedade, em determinadas obrigações legais, mas que deixou para segundo plano o essencial: o seguimento de Jesus. A identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de vida. Que nenhum de nós tenha dúvidas: ser cristão é bem mais do que ser baptizado, ter casado na igreja, organizar a festa do santo padroeiro da paróquia, ou dar-se bem com o padre… Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência fundamental à volta da qual constrói toda a sua existência; e é aquele que renuncia a si mesmo e que toma a mesma cruz de Jesus.


Padre Amaro Jorge scj